quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Quem espera desespera ....o desafio de um teste negativo

Posso com quase toda a certeza afirmar que depois do negativo da primeira IVF/FET, foi um dos períodos mais complicados da minha vida. Pensei mesmo que ia enlouquecer, chorei e desesperei, desesperei muito. Achei injusto e revoltei-me contra Deus. A casa ficou por limpar por dias e eu fiquei como a casa, num destrouxo. Como era possível ter passado por tanta medicação, expectativa e sobrecarga hormonal, para no fim não obter nenhum resultado. 

Em abono da verdade, não sei se é superstição ou não, quando se aproximou a data da transferência tive um pressentimento que não ia resultar (deve ser o mesmo fusível que se liga quando as mulheres presentem que estão grávidas, mas ao contrário) . Quando vi o Abraão emocionado com uma lágrima ao canto do olho ao ver os embriões minúsculos no ecrã pensei:  "Oh Boy! Isto vai ser duro para os dois". Não me enganei.

Parece-me que este pressentimento esteve relacionado com um aspecto muito importante (e nada de transcendente, ou será que sim?). Deve ser mais ou menos aquilo que uma mulher que é traída sente, existem sinais já há muito tempo, mas o nosso cérebro prefere ignorar e protelar o sofrimento.  A clínica na qual estávamos a ser seguidos (somos emigrantes) e da qual decidimos fugir, teve desde o inicio uma postura um tanto ou quanto displicente. Passo a explicar no próximo parágrafo.

O médico na primeira consulta foi super mega simpático, já trazíamos muitas análises feitas e ele congratulou-se com o facto de sermos relativamente jovens e deu-nos a entender que estava no papo. Afinal não estava. Não nos aconselhou a fazer nenhuma preparação em especial (nem a mim nem ao meu maridinho, nem vitaminas? mas não são importantes?)  este foi sem dúvida o primeiro sinal. Depois durante todo o tratamento (até à colheita de óvulos) foram feitas 3 ecografia e nenhuma análise ao sangue. Segundo sinal. Conclusão: óvulos a mais tirados (26), ovários gigantescos, risco de hiperestimulação e por fim embriões que foram morrendo ao longo dos dias....acabámos com 2 embriões, blastocistos. Ah e tal qual é a qualidade dos mesmo? Respostas evasivas por parte da embriologista ( é tão bom quando nos escondem informação que é nossa por direito). Terceiro sinal.  Os embriões tiveram que ser congelados (por causa do risco de hiperestimulação) e o médico disse com um ar surpreso e chateado (já lhe íamos dar cabo das estatísticas)  que tínhamos tido azar, não podia mudar o protocolo (que naquela clínica é igual para toda a gente, outro sinal) e por fim perguntou-me se não queria apoio do psicólogo ( então mas eu não tenho dois embriões viáveis à minha espera, para quê o psicólogo? ) mais um dos muitos sinais. Ah e você tem ovários policisticos (mas eu tenho as análises hormonais normais, ciclos regulares e faço ovulações?).   

Passados 3 meses, já em preparação para a transferência, fazem-me um eco e a técnica (inicialmente muito calada, vi logo pela cara dela que alguma coisa não estava bem)  diz-me: "voçê tem aqui miomas". Que não estavam ali nas ecografias anteriores.  Vai chamar o médico, que me diz que o melhor é tentar removê-los, "mas Dr eu depois posso engravidar?" Digo lavada em lágrimas e dor, ao que me responde com um encolher de ombros e muito espantado de estar a chorar tal e qual uma Maria Madalena. Vá de fazer histeroscopia por um outro médico, menos simpático e muito muito cínico (mas vá era competente antes assim) que me tira dois pólipos e diz : "a menina não tem miomas, eram pólipos e o útero está bom, tenho aqui fotos de tudo". Faço esta salvaguarda, de que foi a única coisa boa, removerem os meus pólipos, aparentemente podem prejudicar a implantação. Tudo bem.... prossegue para a transferência. Mais uma eco ...mais uma técnica ah e tal você tem um mioma ( mas fiz uma eco no meu país natal há um mês e não tinha nada? Já para não falar da histeroscopia). Mais um falso alarme...tiveram a ver melhor (foi chamar outra) e parece que é uma falsa imagem (mas porque carga de agua põe técnicos a fazer estas coisas? E se há duvidas porque não chamam um médico especialista no assunto?).  
Prossegue e chega o dia da transferência, após mais uma carga hormonal ( a 3a em menos de um ano), as embriologistas não falam da qualidade dos embriões, não há fotos como nos blogs das minhas companheiras de luta da net e eu tenho um mau pressentimento.  Ah e tal respostas evasivas e nem se quer me desejam boa sorte ( eu sei que é estúpido mas não me parece bom agoiro, nem o médico, nem embriologistas, nem enfermeiros me desejarem boa sorte. Os tipos sabem alguma coisa que eu não sei e estão a esconder-me). Um ano nisto.

O resultado foi o que se viu. Dor.

Leituras de consolação na net fazem-me indagar se as estatísticas da dita clínica são boas. Surpresa. São abaixo da média nacional. E mais .....trabalham 15 embriologistas relativamente novas no laboratório. Vamos falar com um médico de uma outra clínica mais perto de casa e com estatísticas melhores do que a média nacional (vale o que vale). A clínica é pequena....fazem uma sessão de esclarecimento gratuita e falámos com um médico relativamente novo (40 e muitos) ...também teve dois filhos pela IVF. Falámos no nosso caso e parece espantado com o tratamento VIP. Olha para mim, que estava com um ar destroçado e diz-me que há esperança, é necessário fazer uma melhor preparação para o procedimento. Diz-nos que precisamos de um bom laboratório e que dois blastocistos são um bom sinal.  Eu não acredito, estou nas lonas e não acredito em médicos já. Estou cansada. Magoada. Revoltada. Mas que remédio tenho eu em não acreditar e continuar a lutar. Quero a minha família. 

Mais, se é para continuar os tratamentos na nova clínica quero saber a qualidade dos blatocistos (ABC, 123 e sei lá mais o quê) calma! aparentemente esta clínica fornece essa informação. Ah e quero fazer só o exame beta ao sangue, não quero fazer apenas o exame de urina com testes do supermercado, como na outra clínica. Porra nem isso me deram, não fiz um único exame ao sangue. Fica aqui escrito, NUNCA MAIS FAÇO testes de xixi. Não quero olhar para a porra das linhas e adiciona-me um stress do caneco. Esta clínica também proporciona essa maravilha e invenção de última hora que são exames de gravidez ao sangue.
Ligámos para a primeira clínica e queremos todo o processo nas mãos e já.    

A casa já foi limpa.












quarta-feira, 2 de setembro de 2015

No início era o verbo....não era mesmo a infertilidade!

Sara é uma personagem bíblica que após anos de infertilidade (era velhota segundo consta) é abençoada por Deus com um filho, de nome Isaac. Um menino prodigioso que também não andava com muita saúde, dado que o pai Abraão quis oferece-lo como sacrifício a Deus, a pedido do último para testar o seu amor  (faço lembrar que este era o Deus dos Judeus um tanto ou quanto mais vingativo e duro que o Deus Cristão). Enfim, eu no alto da minha mocidade lembro-me de ouvir esta passagem na missa e de pensar: pobre mulher que não conseguia conceber, que horror! Nunca me passou pela cabeça que um dia iria passar pelo mesmo.

 É uma batalha dura com muitos testes à nossa paciência e ao amor entre o casal. Custa muito e magoa muito. Escusado será dizer que se estivesse no lugar de Sara e o meu marido quisesse sacrificar o filho que tanto me tinha custado a ter, dizia que o homem tinha pirado de todo pegava em mim e na criança e nunca mais me punha a vista em cima.


É por isso que agora no lugar de Sara consigo perceber toda a dor e angustia que só quem vive esta situação conhece. É uma dor de perda sem esta nunca realmente ter ocorrido, mexe no mais íntimo dos nossos instintos  básicos e humanos, o da sobrevivência, o da continuidade dos nossos genes da nossa herança cultural e familiar, em última analise de parte de nós. Quando isso nos é roubado ou é uma possibilidade nunca vir a acontecer, uma parte de nós morre, essa mesma parte da continuidade do nosso ser que unido ao ser dos nossos amados simboliza o que somos e o amor do casal.

Em cima de todas estas questões intimas e transcendentes da alma, existe toda uma pressão social fora de série para que esses frutos se gerem e com ela toda uma competição que nos relembra que nós humanos somos a cima de tudo um animal: "Eu engravidei em menos de um farelo, foi um prazer com direito a orgasmos e tudo, tenho um filho lindo e sobredotado e tu? Ainda não engravidaste? Estas à espera do que?" Se por ventura digo que tenho problemas de infertilidade o assunto crianças e filhos torna-se um assunto tabu e sou excluída de qualquer conversa relacionada com a gravidez ou bebés. Acabou a competição. És uma uma carcaça abandonada.  "Se bobear" até têm receio de ti, tu lembras-lhes que coisas más acontecem a pessoas boas e elas estão tão, mas tão felizes que não querem pensar em desgraceiras. Coisas más acontecem aos outros e de preferência queremos vê-los bem longe! Também sei que as pessoas não são más de todo e na maioria das vezes não querem magoar os teus sentimentos, percebo isso, mas não sei se evitar certos assuntos é a melhor solução, ou se magoa ainda mais. Aqui entra o Deus Cristão do perdão e em força.

Este blog único e diferente (estou a gozar há milhentos por aí e adoro lê-los, dentro dos intocáveis há uma comunidade linda de entre ajuda que nunca pensei que existisse) vai relatar o meu percurso nesta luta pelo meu "Isaac", não tem direito a orgasmos (infelizmente) é mais suor e lágrimas.  Acho que também vou falar do meu Abraão de vez em quando que o tipo merece.



Ah! Não existe nada melhor do que "vomitar" os nossos sentimentos através do "verbo", no início era o verbo e ele faz muita falta.

Nestes belos desenhos aqui em cima estão os referidos velhotes bem felizes, como um dia quero estar!!

De : Uma das muitas Saras