quarta-feira, 2 de setembro de 2015

No início era o verbo....não era mesmo a infertilidade!

Sara é uma personagem bíblica que após anos de infertilidade (era velhota segundo consta) é abençoada por Deus com um filho, de nome Isaac. Um menino prodigioso que também não andava com muita saúde, dado que o pai Abraão quis oferece-lo como sacrifício a Deus, a pedido do último para testar o seu amor  (faço lembrar que este era o Deus dos Judeus um tanto ou quanto mais vingativo e duro que o Deus Cristão). Enfim, eu no alto da minha mocidade lembro-me de ouvir esta passagem na missa e de pensar: pobre mulher que não conseguia conceber, que horror! Nunca me passou pela cabeça que um dia iria passar pelo mesmo.

 É uma batalha dura com muitos testes à nossa paciência e ao amor entre o casal. Custa muito e magoa muito. Escusado será dizer que se estivesse no lugar de Sara e o meu marido quisesse sacrificar o filho que tanto me tinha custado a ter, dizia que o homem tinha pirado de todo pegava em mim e na criança e nunca mais me punha a vista em cima.


É por isso que agora no lugar de Sara consigo perceber toda a dor e angustia que só quem vive esta situação conhece. É uma dor de perda sem esta nunca realmente ter ocorrido, mexe no mais íntimo dos nossos instintos  básicos e humanos, o da sobrevivência, o da continuidade dos nossos genes da nossa herança cultural e familiar, em última analise de parte de nós. Quando isso nos é roubado ou é uma possibilidade nunca vir a acontecer, uma parte de nós morre, essa mesma parte da continuidade do nosso ser que unido ao ser dos nossos amados simboliza o que somos e o amor do casal.

Em cima de todas estas questões intimas e transcendentes da alma, existe toda uma pressão social fora de série para que esses frutos se gerem e com ela toda uma competição que nos relembra que nós humanos somos a cima de tudo um animal: "Eu engravidei em menos de um farelo, foi um prazer com direito a orgasmos e tudo, tenho um filho lindo e sobredotado e tu? Ainda não engravidaste? Estas à espera do que?" Se por ventura digo que tenho problemas de infertilidade o assunto crianças e filhos torna-se um assunto tabu e sou excluída de qualquer conversa relacionada com a gravidez ou bebés. Acabou a competição. És uma uma carcaça abandonada.  "Se bobear" até têm receio de ti, tu lembras-lhes que coisas más acontecem a pessoas boas e elas estão tão, mas tão felizes que não querem pensar em desgraceiras. Coisas más acontecem aos outros e de preferência queremos vê-los bem longe! Também sei que as pessoas não são más de todo e na maioria das vezes não querem magoar os teus sentimentos, percebo isso, mas não sei se evitar certos assuntos é a melhor solução, ou se magoa ainda mais. Aqui entra o Deus Cristão do perdão e em força.

Este blog único e diferente (estou a gozar há milhentos por aí e adoro lê-los, dentro dos intocáveis há uma comunidade linda de entre ajuda que nunca pensei que existisse) vai relatar o meu percurso nesta luta pelo meu "Isaac", não tem direito a orgasmos (infelizmente) é mais suor e lágrimas.  Acho que também vou falar do meu Abraão de vez em quando que o tipo merece.



Ah! Não existe nada melhor do que "vomitar" os nossos sentimentos através do "verbo", no início era o verbo e ele faz muita falta.

Nestes belos desenhos aqui em cima estão os referidos velhotes bem felizes, como um dia quero estar!!

De : Uma das muitas Saras


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